Cara Alexandra Prado Coelho
Ontem lemos a sua reportagem no Público. O plural (lemos) identifica estarmos a escrever em nome da Associação de Viticultores Profissionais do Douro, ProDouro, (www.prodouro.pt).
Todos os assuntos relativos ao nosso sector de actividade interessam-nos particularmente. Foi o caso da reportagem de ontem e que gostamos de ler. Registamos as palavras do director da FNOP, embora o Douro vitivinícola não viva dias com igual tranquilidade e optimismo.
Se a nossa Associação tivesse sido ouvida na reportagem que escreveu, teríamos outro ponto de vista. De facto vivemos muito preocupados com a falta de mão-de-obra nas vinhas do Douro e não nos consola pensar que a crise socio-económica por causa da pandemia Covid-19 pode atenuá-la temporariamente. Não é assim que se alcança a sustentabilidade que almejamos para a nossa actividade.
Saiba que só no Outono / Inverno a mão-de-obra indígena é suficiente nas vinhas do Douro. Isso não acontece no trimestre de crescimento activo das videiras, Maio a Julho, pois, por cada unidade de trabalho entre os meses de Novembro e Abril, precisamos neste trimestre de 1,8 unidades, isto é, mais do que a dita mão-de-obra indígena disponível. A falta agudiza-se na vindima e daí a ProDouro ter apresentado ao governo, via secretaria de estado da segurança social (Guarda) o chamado «contrato de vindima». A apresentação foi via email, tudo por causa das distância física que temso de guardar e da agenda por demais ocupados dos nossos governantes. Pode ler o «contrato de vindima» em pormenor na edição de Primavera do Jornal ProDouro que lhe enviamos em anexo.
Aproveitamos a oportunidade para lhe dizer, e nisso estamos em falta, que citamos a Alexandra no Manifesto Vinha Velha que incluímos neste número do nosso Jornal. Julgamos que gostará de ter participado na defesa das nossas vinhas velhas. A nós, honrou-nos.
Por último, dizemos-lhe que na última sexta-feira partiu daqui, da Régua, um autocarro com trabalhadores para as vinhas de França. Um paradoxo: o Douro deficitário em mão-de-obra garante o granjeio de vinhas francesas. Estamos no tal trimestre de crescimento activo das videiras.
No caso, o destino era a região vitícola de Chateauneuf-du-pape e iam contratados com um salário bruto hora de €10,52 e alojamento gratuito, se bem que, ao que nos pareceu, também contabilizado para efeitos de encargos sociais. O contrato foi assinado à partida, pois serviu de passaporte em tempo de pandemia. Confirma-se pois o flop do programa do Ministério da Agricultura francês «Des bras por ton assiette» tão bem retratado pelo jornal Le Figaro de 11 de Maio corrente.
Para o mesmo trabalho indiferenciado o valor actual do salário bruto hora para mão-de-obra residente no Douro seria, pouco mais ou menos, €5,35.
Com os melhores cumprimentos, esperamos que o nosso jornal lhe seja útil e que tenha gostado, tanto quanto de nós, de nos ter ajudado a defender as nossas vinhas velhas, tão vulneráveis como as pessoas velhas em tempo de pandemia Covid-19.